9.4.07

texto de Carlos T

A comunidade Zappófona não está devidamente estudada e muito menos mensurada. Sabe-se que vai de Big Sur até aos Urais, de Anchorage a Baku, e que, algures numa casa improvável de Moimenta da Beira, pode existir um Roxy & Elsewhere, propriedade de alguém cujo desconforto perante o mundo saído do pós-guerra rumo à cultura de super-mercado encontrou na sua arte um unguento ou um laxante, depende do ponto de vista. Daí que retomar este legado e executá-lo – mesmo amputado duma parte significativa da sua actividade sulfúrica, que é a parte cantada – é algo que se agradece. Tomando o conceito pop como mistura de géneros, hibridez pós-moderna, quebra de respeito pelo cânone sem porém o renegar, pode-se dizer que Frank Zappa foi o último artista pop, o último iconoclasta encartado, alguém que provocou, que fez contracultura, alguém que, em registo de auto paródia, se riu da América sem renegar a sua americanidade, até se tornar ele próprio um ícone americano. Fê-lo rabeando entre o Jazz, a música erudita, e o rock do detergente de cozinha, reivindicando aquilo que os anos sessenta trouxeram de verdadeiramente novo e dinâmico ao mundo: a liberdade de expressão e de experimentação.

Por isso, em tempo de formatos e enlatados, retomar a música de Frank Zappa é um exercício de desobediência civil e uma espécie de serviço público. Bem haja o Zappa Low Budget Research Kitchen.

CARLOS T